sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A filha, pela mãe

Segunda-feira, chega ao meu escritório uma adolescente falando que é transviada e quer que eu ajude a mãe dela a entender o assunto. E depois de dois dias, me aparece a mulher, desesperada, pedindo conselhos, como se eu fosse psicóloga ou algo do tipo. Chegou e já foi logo sentando num sofazinho que tenho perto da porta, e em seguida começou a falar:

- A senhora já ouviu falar em transviada? Pois então, minha filha é; tem 15 anos, mas finge ter 17, anda por aí como se fosse um moleque, com calças largas, casacão e mangas arregaçadas, vive se metendo com gente que não presta e eu é que não mereço isso!

Há pouco tempo, fez par com um menino da mesma idade que ela – acredite a senhora, ele diz ter vindo dos Estados Unidos, mas mal sabe falar inglês, como pode? Bom, esses dias ela chega com a novidade que está grávida, mas é apenas uma menininha! A notícia veio como um choque, já que sou mãe solteira – ainda não sei onde errei pra ter uma filha dessas, viu?! Sabendo da notícia, logo fui atrás do pai do menino, disse que ia dar queixa, só que nesse caso o crime é recíproco. Eu achei o fim do mundo! Afinal, se denunciar o guri, levam minha filhinha também.

Aí, pensei em tudo, em aborto, em lhe mandar pro interior, na casa da avó. Até cheguei a dar umas boas palmadas nela. Mas, a conclusão foi que ela tinha que casar, o menino concordou, mas ela não quer, porque quer ser modelo, aeromoça e enquanto o bebê não chega, diz que eu tenho que segurar as pontas, ou então vou ter que sustentar os três – até prefiro!

Sei que a senhora não tem nada com a minha vida, mas teria como publicar uma reportagem dando alguns conselhos para que ela veja que é melhor casar com aquele boboca, do que ter o nome mal falado por aí? Quem sabe, emendar o conselho com uma reportagem sobre mocidade transviada. Ah! Isso sim seria uma boa – dá licença para dar uma deitadinha aqui?



Pequena crônica escrita por mim nos idos de 2007.

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